Celso Bernardi: Ana Amélia Lemos é candidata natural para 2014


"Nós temos a grande marca de ser um partido municipalista, e creio que manteremos isso nessa eleição", diz presidente do PP-RS | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Rachel Duarte
Com maior número de prefeituras, o Partido Progressista já está com estratégia pronta e atuando para manter os 146 prefeitos e ampliar em 10% o número de progressistas no comando das cidades gaúchas. O presidente da sigla no Rio Grande do Sul, Celso Bernardi, conversou com o Sul21 no diretório estadual e falou sobre o desejo dos progressistas em retornar ao governo estadual. Desta vez, o partido quer ter influência na chapa majoritária que se formará até 2014. Para isso, todos os passos a serem dados nas composições das eleições municipais de Porto Alegre estão sendo bem pensados. Sem rodeios, ele deixa claro qual é o principal fator para impulsionar as pré-candidaturas do interior e de posição para a escolha da coligação em Porto Alegre: Ana Amélia Lemos.
“Vamos ter duas reuniões que definirão nossas propostas. Vamos apresentá-las para as duas pré-candidaturas das quais temos compromisso em conversar: Manuela D’Ávila (PCdoB) e José Fortunati (PDT)”, diz Celso Bernardi.
Ainda que sem muita ênfase, Celso Bernardi acrescentou que uma aproximação com o PT não é de todo descartada. Ele salienta que as composições municipais não interferem na postura crítica do PP ao governo Tarso Genro. “Desde o balanço que fizemos do governo estadual, pouco mudou. Aliás, teve retrocesso no tema do piso do magistério”, falou o presidente progressista sobre a postura de Tarso, acusado de descumprir a promessa de campanha feita em 2010.
“A eleição (de Ana Amélia) impulsiona novas filiações. Fizemos cerca de 20 mil novos filiados em 2011 com o trabalho da senadora na base partidária”
Sul21 – O PP tem o maior número de prefeituras no Rio Grande do Sul, mas muitos prefeitos estão completando o segundo mandato e não podem mais se reeleger. Como o partido se prepara para a disputa de 2012?
Celso Bernardi - Nós temos a grande marca de ser um partido municipalista. Nas últimas três eleições municipais (2000, 2004 e 2008), mantivemos a tradição de ser o partido que mais elege prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. Creio que vamos repetir esta marca nesta eleição. Projetamos também aumentar em 10% as nossas prefeituras. Mas, estamos preparados para a ameaça do PT e desse novo partido, o PSD. Dois prefeitos nossos, em São José do Sul e Barra do Ribeiro, foram para o PSD. Hoje temos 146 prefeitos, 121 vice-prefeitos e 1,177 mil vereadores. Deste total de prefeitos, 91 poderão ser candidatos e 55 estão impedidos porque já completaram dois mandatos. Trabalhamos para aumentar o número de candidatos. Quanto mais candidatos, mais chances o partido tem de eleger maior número de prefeitos. Temos uma média de eleger 54% dos candidatos que se apresentam. É mais da metade que disputa a eleição que sai vitoriosa, é uma boa média. Pretendemos ter 300 candidatos a prefeito e 5 mil candidatos a vereador, sendo 1,6 mil mulheres e 900 jovens.
Sul21 – Qual será a principal aposta do PP para não perder espaço e não sofrer o impacto de perder prefeituras que já completam oito anos de gestão?
Celso Bernardi - Nós passamos 30 anos fazendo campanha com nossos deputados estaduais e federais e líderes partidários. Neste ano temos um fator novo na eleição: o fator Ana Amélia (Lemos). A eleição da senadora foi importante para o partido e hoje impulsiona novas filiações. Fizemos cerca de 20 mil novos filiados em 2011 com o trabalho da senadora na base partidária. E isso tem relação com o papel que ela vem desempenhando no Congresso Nacional. Isto é um fato positivo que temos em relação a eleições anteriores. Mas é claro que também estamos nos reorganizando na estratégia do partido. Temos um projeto de avaliação interna e de preparação para 2012. Listamos os principais partidos e traçamos o cenário eleitoral. Em 14 municípios que tem televisão vamos dar tratamento especial, por causa do impacto da mídia na campanha. A densidade eleitoral das cidades também será um critério para a nossa atuação. Fizemos ainda uma avaliação sobre as derrotas que o PP teve em 63 municípios na última eleição. O percentual foi menor que 5% em alguns casos, então, estamos estudando isso e vendo onde podemos apostar. Outro aspecto que vamos valorizar muito nesta campanha é o valor do poder local. A eleição municipal é fundamental porque é onde elegemos o gestor que irá definir as questões da minha rua, do meu bairro. Enfim, estamos com a campanha bem organizada.

"O PP não tem compromisso com o erro. Não temos porque ser solidários com quem fez alguma irregularidade. Nosso compromisso ético é com a gestão pública de qualidade" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Sul21 – O PP teve uma redução nesta média de eleições municipais e até nas cadeiras dos legislativos, principalmente em 2008. Isto foi reflexo do caso Detran?
Celso Bernardi – Ainda mantemos uma média maior que a dos demais partidos nos municípios, tanto para o executivo como  oara o legislativo. E os partidos são feitos de pessoas e não anjos. Em primeiro lugar, quero que fique claro que o partido não tem compromisso com o erro. Não temos porque ser solidários com quem fez alguma irregularidade. Nosso compromisso ético é com a gestão pública de qualidade. Infelizmente, a corrupção é um problema crônico na política brasileira. Olhando para o espectro nacional, os partidos estão cada vez mais parecidos. Os valores da moralidade e da integridade deveriam ser priorizados pelos políticos. Nós deveríamos fazer no Brasil uma profunda avaliação disso. Há uma pesquisa cientifica comandada pela socióloga Marta Lopes, que apontou pela primeira vez uma queda na confiança no regime democrático. De 54% foi para 45%. Isto tem a ver com a relação dos partidos que atuam como balcão de negócios, que não têm responsabilidade na indicação de bons quadros. A ideia de corrupção que fica no imaginário do povo é reflexo disso. O sistema democrático propiciou avanços da Constituição Federal. Nós temos avanços nas leis, na imprensa. Mas não avançamos tanto no sistema político e no processo de construção de conteúdo democrático. Falta eficiência para a democracia brasileira.
“Teve uma época em que o PT não cogitava fazer coligação conosco. Agora isso foi rompido. O que vale é o projeto para cada município”
Sul21 – Como está o cronograma de movimentação do PP neste período pré-eleitoral?
Celso Bernardi - Estamos com o calendário de reuniões regionais já em execução. Em fevereiro reunimos em Tramandaí. Nos dias 16 e 17 de março estaremos em Santa Rosa e Santo Ângelo. No dia 30 de março será a reunião de Porto Alegre. É uma formação preparatória dos candidatos. Estamos orientando sobre os compromissos da gestão progressista e a ética do partido. Em abril, vamos fazer um evento que chamamos Vitrine Progressista. É um encontro entre os atuais prefeitos e os pré-candidatos já definidos para instrumentalizá-los com bons exemplos de gestão. Vamos apresentar os bons projetos de gestão do PP, que já foram premiados e são referência.
Sul21 – Como o PP irá resolver as possíveis contradições da política de alianças, uma vez que, em algumas cidades o partido pode reeleger um governo do PMDB e em outras um do PT?
Celso Bernardi – A eleição municipal é municipal. As deliberações são exclusivamente dos diretórios municipais. O diretório estadual estimula a participação dos filiados dos municípios nas escolhas e damos plena autonomia na escolha das coligações. Mas sugerimos bons quadros. Nós defendemos três itens básicos que devem estar em todos os programas de governo, independente das coligações: qualidade de vida (saúde, educação e meio ambiente), desenvolvimento sustentável e valorização dos serviços públicos. Agora, as questões do município devem ser discutidas no âmbito do município. Não vemos nenhuma dificuldade em fazer coligação com partidos que fazemos oposição no governo do estado. Não temos impeditivo em fazer várias coligações com o PT. Teve uma época em que o PT não cogitava fazer coligação conosco. Agora isso foi rompido. O que vale é o projeto para cada município. Ao longo da história do PP, o diretório estadual nunca interviu no diretório municipal para dizer qual coligação que deveria ser feita. E isso se manterá.
Sul21 – O cenário avaliado como mais interessante até o momento em Porto Alegre é permanecer no governo Fortunati ou se aliar com o bloco de direita que está sendo formado? Ou mesmo formar chapa com o PCdoB, da deputada federal Manuela D’Ávila?
Celso Bernardi – Aqui em Porto Alegre nós temos compromisso de diálogo com a Manuela. Temos que respeitar a posição da grande líder do partido, que é a senadora Ana Amélia. Ela (Ana Amélia) puxou mais 400 mil votos, então ela tem peso para as decisões do partido em qualquer cidade. E é claro que também temos compromisso com o prefeito José Fortunati, pois estamos no governo municipal. É um projeto que ajudamos a eleger e estamos tendo contribuições para a cidade com alguns secretários. Mas há outros partidos, o PSDB e o DEM estão definindo as candidaturas, também poderemos conversar. Para todos vamos apresentar algumas propostas que serão pactuadas em conversas com o diretório. A última reunião será no dia 30 de março. O que nós não temos viabilidade de coligar é com o PT aqui em Porto Alegre.

"Aqui em Porto Alegre nós temos compromisso de diálogo com a Manuela. Temos que respeitar a posição da grande líder do partido, que é a senadora Ana Amélia" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Sul21 – Mas a Manuela espera pelo PT. O que o PP fará se formar a coligação PT-PCdoB em Porto Alegre?
Celso Bernardi – Ela (Manuela) espera.  Mas nós temos obrigação de levar a ela nossas propostas, que serão definidas no dia 30 de março. Vamos apresentar para os dois candidatos (Manuela e Fortunati) e para outros também, se mais algum candidato quiser conversar para aliança. Vamos avaliar as propostas e o espaço que teremos nas chapas. O PP não quer ser mais um partido a estar na canoa do candidato A ou candidato B. O partido quer ser protagonista e influenciar na campanha, na forma que será feita a campanha e o espaço no futuro governo, em nome de um projeto de governo comum. Mas é evidente que há certa afinidade com o prefeito José Fortunati e uma tendência de se manter no governo que já estamos. Porém, isso não afasta a possibilidade de outras propostas serem viáveis.
Sul21 – Quais as condições oferecidas pelo PDT e PCdoB ao PP até agora?
Celso Bernardi - As conversas foram boas. Os dois pré-candidatos respeitam o nosso partido. Agora, estamos analisando a melhor forma de participarmos. Ver onde vamos participar de forma ativa. Se não tivermos espaço na chapa majoritária, nosso foco será valorizar a eleição dos vereadores. Isso será defendido entre os demais partidos que querem estar com a Manuela ou o Fortunati.
“O trabalho que ela (Ana Amélia) vem fazendo a tornou uma revelação política. A candidatura dela (em 2014) será um processo natural”
Sul21 – O senhor disse que não é viável coligar com o PT aqui e que a afinidade é o Fortunati. Então, coligação com o PCdoB só se o PT não estiver na mesma chapa?
Celso Bernardi – O PT não será impeditivo para coligações nas prefeituras. Tem prefeituras que vamos trabalhar para reeleger prefeitos do PT onde o PP é vice. Em Canoas a eleição foi construída desde o começo com o PT. Em algumas vamos transferir a candidatura para o PT, devido aos oitos anos dos titulares do PP. O que acontece é que em Porto Alegre isso nunca aconteceu. Até poderia acontecer. Iria depender também da Manuela e das condições postas pelo partido. A eleição é municipal, mas terá reflexos na eleição de 2014. O que fizermos agora terá conseqüências positivas ou negativas no próximo processo eleitoral. As candidaturas ao governo do Estado são muito maiores que os próprios partidos, muitas vezes. Temos que ser sinceros. Ninguém iria imaginar que o Tarso se elegeria no 1º turno e se elegeu. Ele se tornou maior que o partido. O mesmo ocorreu com a nossa senadora (Ana Amélia). Os candidatos ao governo do estado terão que ser sempre considerados nas estratégias dos partidos.
Bruno Alencastro/Sul21
"Os partidos escolherão seus principais quadros para 2014. No nosso caso, será o nome da senadora Ana Amélia", diz Celso Bernardi | Foto: Bruno Alencastro/Sul21
Sul21 – A principal preocupação para as composições do PP em 2012 é voltar ao governo do estado em 2014?
Celso Bernardi - Evidente. Nossos prefeitos fazem boa gestão e são bem avaliados. Estamos preparados e desejamos retornar ao governo do estado e vamos trabalhar para isso. Mas o mais importante é não trabalharmos sozinhos. Nós temos cinco partidos do campo de oposição ao governo do Estado: PP, PMDB, PSDB, DEM e o PPS. Esta é a nossa atuação na Assembleia Legislativa do RS. Em minha opinião, temos que seguir dialogando com estes partidos até 2013. Temos que ter candidato de oposição em 2014. Mas, levando em conta o processo eleitoral de 2012, sabemos que a realidade local às vezes é diferente. Tem lugares que é impossível fazer coligações com determinado partido e no município vizinho essa mesma coligação acontece. Estas realidades locais nós vamos respeitar.
Sul21 – Esta volta ao poder estadual não poderia ser na composição do bloco de apoio ao governador, uma vez que Tarso Genro já convidou o PP para compor o governo e hoje o PCdoB está nos planos de coligação? Ou o PP quer voltar com candidata própria?
Celso Bernardi – O que queremos (em 2012) é manter a grife de maior número de prefeitos. Não existe impedimento para coligações com o PCdoB. Nem poderíamos fazer isso. A eleição de 2014 é uma proposta para o Estado, e ela terá seu momento de discussão. Isto não será critério para condicionar coligações nos municípios. Evidentemente que os partidos escolherão seus principais quadros (para 2014). No nosso caso, será o nome da senadora. O trabalho que ela (Ana Amélia) vem fazendo no Senado a tornou uma revelação política. A candidatura dela será um processo natural. Mas não podemos fazer candidaturas em cima do nome apenas, não vamos colocar a carroça na frente dos bois.
Sul21 – O rumo que o PP tomar na eleição de 2012 irá diminuir o grau de oposição ao governo Tarso?
Celso Bernardi – Não mudará em nada. Em relação ao governo estadual, todos os nossos vereadores e prefeitos terão posição crítica em relação ao governo Tarso. A mesma urna que elege o governo elege a oposição. O governo tem que apresentar resultados e nós temos que ter uma oposição de qualidade, atenta às cobranças necessárias. Nossos vereadores e prefeitos, independente da composição, seguirão fazendo as cobranças ao governo do estado.

"Tarso está governando para o futuro, com base em futuras realizações, mas o hoje está aqui. No tema do piso do magistério, por exemplo, houve retrocesso" | Ramiro Furquim/Sul21
“O PT cai no próprio buraco que criou quando criou esta lei (do piso do magistério). Quem prometeu cumprir o piso na última eleição? Só o governo Tarso”
Sul21 – Com a possibilidade de ingressar no bloco de oposição que está sendo costurado pelos partidos de direita, o PP sairia da postura de uma oposição menos agressiva na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, como foi dito que seria no começo do governo Tarso?
Celso Bernardi – A nossa atuação é de oposição na AL. Já temos certa unidade. Agora, ter uma estratégia de atuação na oposição é fundamental em minha opinião. Por exemplo, com uma candidatura própria de oposição para 2014. Mas pode ter certeza de que nós nunca chegaremos a fazer oposição à moda petista. O PT quando foi oposição fez uma frente parlamentar em defesa do piso do magistério em 2009, presidida pelo deputado Fabiano Pereira (hoje secretário do governo Tarso). Um documento com críticas consistentes pelo não cumprimento do piso nacional foi redigido e assinado por 30 deputados. Estes 30 deputados estão, em sua maioria, reeleitos e atuando na casa. Eles poderiam continuar nesta defesa. O Estado é o mesmo. Há de um lado a demanda legítima dos professores e de outro o Estado. O governo tem que mediar para cumprir esta lei. Não empurrar para 2014 e inventar uma desculpa no indexador.  O PT cai no próprio buraco que criou quando criou esta lei. Quem prometeu cumprir o piso na última eleição? Só o governo Tarso. O (José) Fogaça (PMDB) não prometeu a governadora Yeda (Crusius, PSDB) já não vinha cumprindo mesmo. Então, agora tem que ser dada uma solução para este tema. Eu sou professor desde 1963. A discussão toda é para pagar R$ 1,451 para os professores por 40 horas. Isto já é mínimo. Agora, não achar soluções nas finanças para pagar o mínimo é impressionante.
Sul21 – No final do ano passado, o PP apresentou um balanço crítico ao primeiro ano da gestão estadual. O que mudou de lá pra cá?
Celso Bernardi – Continuam as mesmas queixas. O governo está governando para o futuro, só com base em anúncios de futuras realizações. Mas o hoje está aqui. No tema do piso do magistério, por exemplo, houve retrocesso. Não houve enfrentamento do problema e ainda surge um questionamento dos indexadores. Não existe esta validade do índice do INPC, só se mudarmos a lei. É uma desculpa esfarrapada adotada pelo governo. No próximo dia 12 vamos ter um novo encontro da executiva e vamos rever o balanço e os pontos que o governo ainda está em dívida com a sociedade.
Sul21 – E sobre Porto Alegre? Qual a avaliação que o PP faz da gestão da capital?
Celso Bernardi – A gestão trouxe avanços para a cidade, mas peca na agilidade. Algumas coisas são feitas dentro do tempo burocrático do Executivo, outras não acontecem no tempo ideal e deveriam ser revistas. Mas acho que é um governo que tem uma boa avaliação dos portoalegrenses.

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