Brasil: Ame-o ou Deixe-o



Não tem jeito, um assunto leva a outro.

Depois de falar na postagem anterior sobre o fato de o nosso país vir gradativamente superando as adversidades, acabei me lembrando da época do chamado “milagre econômico brasileiro”. Era o final dos anos 60 e início da década de 1970 (mais precisamente entre 1969 e 1973, ano em que estourou a primeira crise internacional do petróleo) e vivíamos sob a sombra da ditadura militar. Enquanto isso, ao mesmo tempo em que o Brasil alcançava níveis extraordinários de “desenvolvimento”, o pau comia solto nos porões do regime, num período sombrio também conhecido como “anos de chumbo”.

Foi a fase áurea dos grandes projetos desenvolvimentistas e das obras faraônicas, tais quais a ponte Rio-Niterói, a Transamazônica e o início da construção da hidrelétrica de Itaipu, tudo isso durante o mandato do presidente Emílio Garrastazu Médici (1969 a 1974) .

Médici na inauguração da ponte Rio-Niterói
Sonhava-se com um Brasil forte, pujante e competitivo. O ministro Delfim Netto, responsável pelas diretrizes da economia do país, defendia que fossem realizados maciços investimentos em infra-estrutura, com uma participação crescente das empresas estatais em determinados segmentos considerados estratégicos, como, por exemplo, a geração de energia (até aí eu concordo).

Construção da Transmazônica, em 1973
Transamazônica, em 2009
Lembro bem que muitas siglas vêm desse período (Mobral, Arena, DOI-CODI, como se gostava disso) e eu sempre perguntava aos meus pais o significado de tantas letras estranhas se combinando. No colégio, tínhamos a matéria de “Educação Moral e Cívica” (já na faculdade foi a vez de “Organização Social e Política Brasileira”, a famosa OSPB, criada por João Goulart, antes de ser deposto) e cantávamos o Hino Nacional regularmente, antes da entrada em sala de aula, mas o que fazia sucesso entre a molecada era uma versão debochada de “Eu te amo, meu Brasil”, da dupla Dom e Ravel.
Dom e Ravel
Diversos slogans também vêm daí, como “exportar é o que importa”, “integrar para não entregar”, “ninguém segura este país”, e, talvez o mais conhecido de todos, “Brasil, ame-o ou deixe-o”, que era utilizado como adesivo no vidro traseiro dos carros, um claro recado para os opositores ou descontentes com as diretrizes econômicas do governo Afinal, como podia haver gente insatisfeita com um governo que conduzia o Brasil, que chegava a atingir o impressionante patamar de 10% de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) ao ano, ao seleto clube dos países do Primeiro Mundo.


Mas é claro que tudo isso teve um custo. O aumento do grau de dependência do capital estrangeiro e a elevação do endividamento externo só fizeram aumentar, assim como ficaram ainda mais evidentes as disparidades sociais existentes em nosso país, tamanha era a concentração de renda em uma nação realmente abençoada por Deus e com um grande potencial. Ou ainda, como dizia uma outra musiquinha de forte teor ufanista daqueles tempos: “Este é um país que vai pra frente… É um país que canta, trabalha e se agiganta… É o Brasil do nosso amor!”.

Por Marcio Tavares.

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